YayBlogger.com
BLOGGER TEMPLATES

sábado, 23 de outubro de 2010

Da série "conversas roubadas"

(Atende o telefone)

Amor, tudo bem?

To no ônibus. To super cansado. Mas deixa eu te contar, a feira foi maravilhosa. Tu não tem noção. Tinha um grupo de meninas lá que acabaram se enrolando no tempo e éramos depois delas... Acabamos perdendo a competição, mas foi uma experiência muito boa. Pela primeira vez fui coordenador do grupo. E tu não vai acreditar, me ofereceram um emprego. Sabe a escola Olimpo? O dono disse que eles têm muito trabalho pela frente. Eles precisam de gente pra dar aula de robótica. Pra instalar os computadores nas escolas e dar aula... E eu pensando que ia ficar sem emprego.

Mas amor, tu não tem noção do quanto de dinheiro que rola nessa área. Eu posso ganhar muito dinheiro, vou sair do curso empregado já.

Hã? Ah amor, tu sabe o tempo que eu perco indo até a tua casa. E o combustível. É melhor eu ficar em casa, onde eu tenho meus livros, meu computador. Tenho um milhão de coisas pra fazer.

E não esquece os abacaxis, são dois. Pro suco. Não esquece.

Ah, amor... Mas dá graças a Deus que está tudo bem. Mas olha, na viagem fiquei conversando com o motorista. Que divertido que foi, tu não tem noção. O cara sabia muito. Sabia e era humilde... Não é como tipo a tua mãe. Orgulhosa, que nem sabe muito. Ele vê muito aqueles filmes da Ulbra sabe? Ele conhece várias passagens da Bíblia. Conversamos umas quatro horas, e foi muito divertido, tu não tem noção.

E sabe, vou te dizer, ele sabe muito mais que a tua mãe, e digo mais, sabe mais do que eu. O cara sabe muito.

Ah, amor, tu me liga. Eu acordei às cinco e meia da manhã. Vou cair na cama.

Sim, vou na academia.

Mas é melhor tu me ligar, eu vou acabar esquecendo.

Sim amor, te amo ta? Que Deus te abençoe, em nome de Jesus amado. Te amo. Beijo.

Risos.

Desce do ônibus.

.
.
.

Aluga a namorada pra contar a VIDA dele no ônibus, por no mínimo meia hora, e não quer ir até a casa dela e não quer ligar pra ela no fim da noite. O que a gente faz com uma criatura dessas, em nome de Jesus amado?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Estamos engatinhando


No último sábado, assisti a uma peça infantil envolvente no Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo. A Rádio Chulé é o primeiro espetáculo teatral que usa o recurso da audiodescrição no Estado. Eu também não sabia do que se tratava: um recurso disponível em peças, espetáculos da dança, filmes e exposições, que possibilita ao deficiente visual acompanhar e compreender todos os elementos presentes no palco ou na tela que lhe escapam. Os atores César Benites, Letícia Schwartz e Márcia Caspari integram o elenco do roteiro que envolve música, elementos clássicos do rádio, brincadeiras e poesia.


César conduz a programação da Rádio com voz e violão. Letícia dança e faz o papel da repórter/ atriz de rádio-novela atrapalhada, com um carisma incrível sobre as crianças, que não param um segundo durante a peça. Márcia faz a audiodescrição, fazendo breves intervenções durante o espetáculo, ressaltando elementos do cenário, a posição dos atores, se estão em cena ou não, a sua expressão facial...


O recurso, que normalmente seria oferecido através de fones de ouvido somente aos deficientes visuais e contaria com um profissional em uma cabine no teatro, longe dos olhos do público, aqui está a mostra, vestido com o figurino e fazendo parte real do espetáculo. “A gente optou por essa maneira, de ter alguém de figurino em cena junto, para conseguir colocar esse recurso de um jeito que não atrapalhe quem está enxergando (...) O teatro não tem fones disponíveis e uma produção do espetáculo não tem como bancar a locação dos fones. Vai ter que chegar o momento em que os teatros e os cinemas tenham esse equipamento disponível”, explica Letícia Schwartz, atriz e audiodescritora, que escreveu a peça junto com o seu pai, o escritor e dramaturgo Jorge Rein (também um audiodescritor em formação).


Para Letícia, a audiodescrição avançou muito mais em São Paulo, onde há teatros e salas de cinema que já oferecem o recurso, similar à tradução simultânea. Estão nos planos da atriz a formação de parcerias aqui no Estado para desenvolver roteiros com a audiodescrição e trabalhar em peças que já estão em cartaz, mas admite que não há ainda nada encaminhado.“Estamos engatinhando”.


O PL 7671/2010, em tramitação na Câmara Federal, prevê a criação do Programa Nacional de Acessibilidade Cultural aos Portadores de Deficiência Ocular e Auditiva. O projeto de lei, de autoria do deputado Márcio França, pode preencher uma lacuna presente na legislação brasileira, ainda muito vaga e com metas pouco definidas quando o assunto é acessibilidade cultural. A lei obrigaria casas de espetáculo à disponibilização de fones de ouvido para deficientes visuais e textos descritivos para deficientes auditivos, para que todo o público possa acompanhar na íntegra o que está acontecendo no palco.



Nesse aspecto, o Sul é província sim.


www.radiochule.com.br

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Consegui!


Surreal. Suriêl. É como posso descrever garantir por sorte o meu ingresso para o show do Paul McCartney no dia 7 de novembro. Não vou mentir que escuto Beatles desde criancinha. Não vou dizer que conheço de cabo a rabo a carreira solo do beatle Paul. Vou até admitir que acho o Paul o mais arrogante do Fab Four. Tive o contato real com a música deles só aos 12 anos, com uma coletânea vinda do Paraguai, que a minha tia trouxe de viagem. E desde então acho que gastei o CD pirata de tanto ouvir. Meus pais gostam de Chitão e Xororó e Abba, mais que tudo. Mas a música deles me marcou desde aquela época. Eu conheci a minha melhor amiga graças a eles. Ela sim, posso afirmar, tem todos os CDs e o livro Antology que eu não cansava de folhear quando ia na casa dela. Mas posso afirmar sem titubear que mesmo não tendo os vinis originais, a música deles ficou em mim com a mesma intensidade que ficou em qualquer fã que é fã desde criancinha.

Cheguei ao Gigantinho, onde estava sendo organizada a distribuição de senhas, pouco antes das 21 horas de sexta-feira, 8 de outubro. Eu e a Ju sempre furamos uma com a outra. Sempre desmarcamos todos os compromissos na última hora. Naquele dia seria diferente e para surpresa minha lá estava ela junto com o meu namorado - que tinha se negado a madrugar na fila - me esperando. Chegamos e não tinha mais senha. Cheguei de cadeira de praia, canga e uma térmica com café com leite – que ninguém tomou. A Ju comprou uma senha por R$ 100 com um cambista junto com mais três meninas, que, ora vejam só, cursam Jornalismo e uma delas tinha sido colega minha de rádio-escuta no Piratini. Estávamos entre seis, o número limite para a compra de ingressos por senha. O desespero era tamanho que no dia seguinte havia relatos de senhas que foram vendidas por MIL REAIS. Mil. Pagamos barato e dividimos por seis. Esperamos amanhecer. Me arrependi brutalmente de não levar um livro e um baralho de cartas. Mas o tempo passou rápido e logo o dia amanheceu. Na nossa frente, uma família de cambistas. Ligaram o rádio que logo chamou atenção pelos acordes sertanejos. Irritou toda a fila. Chega um homem meio mal encarado, meio bêbado, tentando de qualquer jeito bolinar uma das mulheres cambistas que estava na nossa frente. Uma das meninas que estava com a gente disse com propriedade: “ainda bem que sou sapatão”.

A Ju, que ouve Beatles desde criancinha, queria fazer uma surpresa para a mãe dela, e decidiu fazer um acordo com uma das cambistas que compraria apenas três ingressos para usar a cota restante dela. Pontualmente às oito horas o portão abriu. Levanta acampamento, fecha as cadeiras. Ouvimos o pessoal honesto da revenda que estava na nossa frente dizendo que venderia os ingresso por R$ 450 cada. Informação de antemão: este será o valor do ingresso de R$ 140 no dia. Na hora de ir para a bilheteria, que ficava no Beira Rio e não no Gigantinho, apenas quem tinha senha na mão poderia passar. A cambista passou e deixou a Ju na mão. A menina que compraria para nós passou também e não conseguiu pegar o dinheiro para a Ju comprar o dela. A Ju saiu gritando “eu só preciso comprar com ela!”. Ela não deixaria o cartão de crédito com a cambista e não sabíamos que apenas o portador da senha poderia ir até a bilheteria. Como que por milagre, uma senha caiu do céu e uma mulher disse pra ela: “tu precisas de senha? Tenho uma sobrando”. Assim a Ju foi pra fila. E tinha gente sem senha furando a fila. Gente que foi denunciada e quase linchada por quem passou a noite madrugando ali.


Pegamos nossas cadeiras de praia e sentamos, esperando pela saída dos nossos ingressos. Fomos até o posto tomar um cafezinho de maquininha e aparece uma piranha de short e meia-calça. Meu namorado se serve de café e vai até a mesinha para colocar o açúcar. A louca finge que vai olhar algo na prateleira mais baixa e fica exibindo o seu derrière para o meu respectivo. E ela estava acompanhada. De um membro da Cachorro Grande. Groupies nunca morrerão e enquanto eu tiver um namorado de cabelo comprido vou sofrer pelo resto da minha vida. Pelo menos ele ficou olhando para os lados, fingindo que não era com ele.


Mas enfim, voltamos e esperamos. Sai a Gabriela, a menina que ficou com a nossa senha, com todos os nossos ingressos na mão! Esperamos a Ju, que ganhou R$ 80 de comissão para cada ingresso que pediram para ela comprar, já que ela tinha uma senha só para ela e compraria apenas duas entradas. Sem contar os ingressos de uma guria que ficou sem e eu a orientei a entrar lá e pedir para uma menina loirinha chamada Julianna comprar para ela. E ela voltou agradecendo muito, e os caras que pediram pra Ju comprar também agradeceram muito, como se fosse o melhor dia da vida deles. O dia em que garantiram o seu lugar entre os 50 mil que vão assistir o Paul no dia 7 de novembro. E a Ju não contou pra mãe dela, é surpresa.