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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Desencontros

Ela marcou de se encontrar com ele no final da aula. Ele disse que se atrasaria, porque era último dia, entrega de conceitos, e queria conversar com o professor. Ela ficou embaixo da árvore que eles sempre admiravam nos dias de sol, de como era florida e bonita, destoando tanto do cinza daquele lugar. Já tinha escurecido, ela tinha que voltar de ônibus naquele dia. Esperou quinze minutos, esperou vinte, esperou meia hora. Aconteceu que tomou coragem e foi embora. Na verdade, ela até que gostava de deixar as coisas na mão do destino, assim não precisava se responsabilizar pelas suas escolhas. Começou a descer as escadas. Se der número de degraus pares, eu vou, se der número de degraus ímpar, eu fico. 22. “Não era pra acontecer”. Um pouco chateada por ele se enrolar tanto, nem avisou, nem mandou mensagem, e foi embora. E se ele estivesse mesmo interessado, teria sido mais sucinto com o professor. E poderia também ter ido avisá-la também. Enfim.

No outro dia, na saída da aula, ele a esperou na parada. Quem sabe estava chateada pela demora dele. Ou talvez nem sequer apareceu. “Eu nunca sei o que esperar dessa guria”. Mas sei que posso esperar um sorriso se ela ver que eu estou aqui, na parada. “Ela caminha como quem está sempre com pressa. E de cabeça baixa ainda. Quem sabe eu fico mais pra cá pra ela me ver.” Passou um T1, dois T1, três, sem contar com os diretos. “É, ela ta puta da cara comigo”. Pegou o próximo ônibus e sentou na frente.

Ela estava lá atrás, e impossível confundir os cabelos negros e lisos dele. As mãos em cima da mochila. O moleton verde musgo, que ele dizia que era preto. “Homem não sabe nada de cor. E acha que vão chamar de bicha se ele é capaz de diferenciar azul marinho e azul. Será que ele não me viu ou fez que não me viu. Acho que não me viu.” Chegou perto da hora de descer, ele passou na roleta e foi direto pra porta. O ônibus tinha lotado. Ela olhou pra ver se os olhos dela encontravam nos dele, mas ele não viu. Num percurso de meia-hora, ela fantasiou a sua relação com ele, pesando prós e contras, acreditando que podia sim dar certo. Mas mais uma vez, ela deixou nas mãos do destino. “Ele não me viu, não era pra acontecer”.

No caminho, a imagem dela às vezes passava rápido pelo pensamento. Mas ele estava cheio de dúvidas. Apesar de ser bonita e agradável, ela era meio estranha. E ele tinha medo de nunca conseguir decifrar os seus olhos, de estar sempre na dúvida. Ela não era o tipo de pessoa que se mostrava na primeira semana, nem no primeiro mês. Ela era um livro a ser folheado devagar, com atenção. E então, era um risco. Que ele não estava a fim de correr.

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