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terça-feira, 15 de junho de 2010

O real e o imaginário da obra mais famosa de Isabel Allende

A Casa dos Espíritos (1982) é sem dúvida uma obra que marcou positivamente a literatura latinoamericana e a carreira da escritora e jornalista Isabel Allende.

Isabel nasceu no Chile e ambienta todas as suas histórias entre o fim do século XIX e início do século XX, contando um pouco da história do seu país de origem, das lutas políticas e sociais, ao mesmo tempo em que compartilha conosco a saga de famílias e gerações inteiras, de forma peculiar e fantástica.

A Casa dos Espíritos conta a história da família Trueba, aristocrata e de alta classe, até o Golpe Militar de 1973 com a ascensão da ditadura. Isabel é sobrinha de Salvador Allende, o primeiro presidente de um partido de esquerda a ser eleito democraticamente no país, em 1970, até morrer dentro do palácio presidencial durante a tomada do poder pelos militares, liderados pelo general Augusto Pinochet. A jornalista viveu de perto a história do país e sabe aliar dados históricos com romance e fantasia como poucos.

O casamento de Clara e Esteban une as famílias Del Valle e Trueba, dando início à saga das três gerações narradas no livro. Clara casa-se com o jovem Esteban, depois da morte de sua irmã Rosa, uma jovem de cabelos verdes, que parece viver em outro mundo que não o terreno. Esteban tenta a sorte trabalhando em minas de ouro e passou um bom tempo longe de casa, até retornar e receber a triste notícia da morte do seu grande amor. Clara havia crescido e se tornado uma bela moça, não tanto quanto Rosa, mas que faria Esteban feliz e garantiria o início de uma família.

Entretanto, Esteban se dá conta de que apesar de não ser tão bela, Clara é tão peculiar e excêntrica quanto a irmã. Ela conversa com espíritos, move móveis com o pensamento e lê o tarô, ficando conhecida depois de um tempo como “Clara, clarividente”. O casal vai morar na propriedade antiga da família Trueba, Las Tres Marias, e lá têm três filhos: Blanca, Jaime e Nicolas. No campo, Esteban Trueba disciplina os empregados e prospera como fazendeiro. Porém, é extremamente conservador e defende ao pé da letra o discurso direitista. Seus empregados o odeiam por ser um chefe autoritário e intolerante. Uma jovem da fazenda acaba tendo um filho de Trueba, sem o seu conhecimento, Pedro Terceiro, que no futuro será o amor da vida de Blanca (também sem o seu conhecimento).

O tempo passa e a família volta a viver na cidade com a gravidez de Blanca. Clara está cada vez mais longe do mundo dos vivos e Trueba, num acesso de raiva, quebra-lhe todos os dentes. A partir daí, a mulher lhe nega a palavra e vive em silêncio com ele até a morte. O velho Trueba envolve-se na política e concorre a senador. Clara morre, e a única pessoa a quem o velho patriarca reserva carinho e que lhe dá atenção é a neta, filha do filho bastardo: Alba. Seguindo a tradição, a menina envolve-se com um militante socialista da faculdade: Miguel. Ela o auxilia na luta armada contra a tomada do poder pelos militares.

Neste trecho, Isabel reproduz o que viveu o seu tio Salvador Allende durante o Golpe:

“O céu começou a toldar-se. Ouviram-se alguns disparos isolados e distantes. Naquele momento, o presidente estava falando com o chefe dos subelevados, que lhe ofereceu um avião militar para sair do país com toda a sua família. Ele, porém, não estava disposto a exilar-se em algum lugar longínquo, em que poderia passar o resto da sua vida, vegetando com outros governantes depostos, que tivessem abandonado às pressas suas pátrias.

- Equivocaram-se comigo, traidores. Aqui me pôs o povo, e daqui só sairei morto. – respondeu, sereno.”

O livro termina com o prosseguimento do regime militar e uma mudança da maneira de ver a vida de Esteban Trueba. Isabel conta a sua história através da vida da própria Alba e é tocante, essa mistura do real com o imaginário que só Isabel soube fazer com perfeição. Recomendo.

A Casa dos Espíritos (1982)
Tradução de Carlos Martins
Editora Bertrand Brasil
Edição 2009 – 448 páginas
Preço médio: R$ 59,00

Julianne Maia

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Texto redigido para a cadeira de Jornalismo Impresso I.
E de Dia dos Namorados, ganhei outro da Isabel, "Retrato em Sépia". Adooooooooooro.

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